3 de out. de 2011

Carta Aberta à Nação Brasileira.

1ª DE OUTUBRO DE 2011

Hoje é meu dia. Por isso, minha filha, quero lhe lembrar um detalhe: em toda a história da humanidade, as pessoas mais velhas sempre tiveram como papel guardar as tradições, conduzir as decisões da comunidade, ensinar os ofícios, as cantigas, as histórias, a vida. Por isso não estou de acordo nem compreendo porque o Brasil de hoje imagine que eu deva ficar de fora da minha própria história e da história do meu país, apenas porque estou velho. Ora, justamente agora que já aprendi tanto e que tenho tanto a ensinar?!
Quero dizer para o Brasil: o caminho é um só. Se o desejo (que também é meu) é o de crescer como país, ser uma nação respeitada internacionalmente, então, é urgente começar em casa: respeitando os mais velhos e os direitos dos mais velhos. Sabe por que preciso lhe dizer isso, hoje, minha filha? Porque eu não nasci ontem, não sou eterno nem você ficará para sempre jovem.
Confie em mim: envelhecer é um direito que o Brasil ainda não conquistou para todos os brasileiros. Acredite, ao contrário do que você pensa, o Brasil já não é mais um país jovem: somos mais de 21 milhões de idosos e a cada ano 650 mil pessoas atingem os 60 anos e se tornam idosos. Eu e você envelhecemos todos os dias e precisamos levar isso a sério. Certamente será mais fácil se uma geração estiver disposta a colaborar com a outra mais velha e vice-versa.
Outra confusão que está acontecendo: eu não sou nem me sinto um peso para o Brasil. Eu sou a sua maior riqueza. Eu sou o alicerce deste país. Foi sobre mim, com o meu trabalho e com a minha saúde que o Brasil abriu estradas, construiu pontes, cidades, estados. Por isso eu me sinto muito à vontade para desejar a todos os brasileiros um feliz dia do idoso. Porque a sua velhice já está em você, são as suas escolhas e as suas circunstâncias que determinam a sua velhice, um caminho que eu conheço bem.
Mas eu não desisto do sonho de ser feliz, de ser cidadão pleno de direitos. Por isso sigo acreditando no homem. Porque já vi muita coisa e faz muito tempo que estou nessa escola que é a vida. Por isso mesmo, minha filha, eu desejo a você, que cresça em graça e sabedoria, que aproveite as oportunidades que a vida lhe dá. Saber de mim é uma delas. Se quiser, posso lhe ensinar um pouco mais sobre a vida.

Karla Giacomin
Presidenta do Conselho Nacional dos Direitos do Idoso (gestão 2010-2012)

(Texto inspirado em diálogos verídicos de uma menina com um homem sábio e velho)

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